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O Atendimento às Necessidades Educacionais dos Alunos na Sala de Aula – 1

Organizar grupos de alunos em classes é uma condição fundamental para que se promova uma importante dimensão da educação: a socialização de alunos, que corresponde à promoção de condições para que eles aprendam e desenvolvam competências sociais, na interação orientada e organizada com seus pares. Essa organização em turmas ou classes corresponde, portanto, não à massificação ou tratamento de todos da mesma forma, tal como é comum observar, a partir do entendimento de que a questão é meramente econômica. Trata-se de um importante elemento educacional, desde que assim seja considerado e explorado, mediante a articulação entre as dimensões pessoais e as sociais dos alunos. A pedagogia da educação, necessariamente considera os grupos como elementos em que são atendidas importantes necessidades de desenvolvimento dos alunos. Portanto, essa pedagogia não é a mesma da pedagogia da fábrica, que responde da mesma forma a todas as peças, como objetos inanimados que são e passíveis de serem meramente moldados.

Verifica-se que recentemente no Brasil, a exemplo do que acontece em outros países, pais insatisfeitos com o trabalho educacional das escolas estão retirando seus filhos dos estabelecimentos de ensino e os ensinando em casa. Em matéria publicada por Holanda (2012), é registrada a existência de uma Associação Nacional de Educação Domiciliar – Aned, e que somente em Minas Gerais há mais de 200 famílias educando seus filhos em casa, em vista de sua insatisfação pelo modo como a educação é promovida na escola. Nessa matéria, registra-se que um jovem que está estudando em casa aponta que, nesta nova experiência é levado a se tornar mais responsável pelos seus estudos e pesquisas, uma vê que na escola as práticas de aprendizagem tendem a ser mais repetitivas e mecânicas, centradas no professor: “na escola, você fica mal acostumado. A professora escreve o conteúdo no quadro e você só copia no caderno”. Seu irmão indica que “é como se fosse uma linha de produção, com todos aprendendo as mesmas coisas, no mesmo ritmo”.

Há críticas à falta de criatividade, de estimulação para pensar e debater, de participar e de sentir-se gente, de ser considerado como pessoa. Uma mãe que passou a ensinar os seus filhos em casa afirma que em vez de os alunos aprenderem na escola uma socialização saudável, são submetidas ao bullying dos colegas, à domesticação pelos professores e a responderem mecanicamente ao que é ensinado, sem espaço para a participação criativa e inteligente para resolver problemas e desenvolver interativamente essas habilidades.

Essa situação merece atenção e ela corresponde a uma série evidência de que há problemas na escola e que a dinâmica da sala de aula tem deixado a desejar. Levando-a em consideração, porém, é fundamental ter em mente que em vez de discutirmos “se” os pais tem o direito ou não de retirar seus filhos da escola e os educar em casa, devemos discutir porque essa situação está acontecendo e o que precisa ser corrigido na escola, e na relação família-escola, a fim de que se possa promover melhor formação para os alunos, pela integração entre família e escola. Portanto a questão da gestão da sala de aula deve receber sérias e consistentes considerações, a partir do entendimento de que os alunos são pessoas em desenvolvimento e que vão para a escola a fim de serem orientados nesse processo, como serem humanos, em todas as suas dimensões pessoais e sociais.
Um dos aspectos básicos a ser analisado em torno da questão é considerar que o papel da escola não é apenas como o de ensinar lições reduzidas de português, matemática, ciências, história e geografia, dentre outras matérias, mas sim o de desenvolver competências, raciocínios e habilidades de resolver problemas a partir do raciocínio na língua materna, raciocínio matemático e científico, compreensão da cultura, política e economia a partir da história e geografia, bem como de atuar e resolver problemas em grupo. Essa aprendizagem demanda o desenvolvimento de processos mentais estimulados e cultivados socialmente.
Segundo esse entendimento, a sala de aula é espaço de interação e comunicação dinâmica em que o aluno é colocado como centro e não a matéria, que é o meio para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, é fundamental que o professor, ao organizar as suas aulas e ao promovê-las, leve em consideração certos aspectos básicos:
– Colocar o aluno como centro do processo de aprendizagem, como um ser humano e social em desenvolvimento.
– Promover atividades em que os alunos são envolvidos dinamicamente na resolução de problemas,
– Promover a dinamização de processos mentais, como: observar, analisar, comparar, classificar, deduzir, diferenciar, inferir, sintetizar, avaliar, dentre outros.
– Realizar a problematização dos objetos de aprendizagem, de modo a instigar o aluno à análise, discussão e reflexão sobre seus diferentes aspectos e variação dos mesmos, assim como sua relação com a realidade.
– Variar os métodos de ensino em cada aula, de modo a equilibrar o desenvolvimento de responsabilidade individual do aluno por sua aprendizagem (método do ensino individualizado), desenvolvimento de competências sociais e de resolução de problemas de forma interativa (método do ensino socializado) e desenvolvimento de competências de raciocínio, compreender informações verbais, associar diferentes informações entre si (método do ensino expositivo dialogado).
– Explorar situações e condições para que na sala de aula cada aluno se sinta considerado como pessoa, e que lhe sejam oferecidas as oportunidades e orientações para o atendimento de suas necessidades humanas pessoais.

A educação, com esta perspectiva, é portanto, mais do que o processo de instrução e treinamento em relação a aprendizagens específicas relacionadas e disciplinas. É processo de comunicação e relacionamento interpessoal que envolve dinamicamente professores e alunos, na análise, discussão e reflexão sobre fatos, conceitos, processos, de modo a compreendê-los, fazer generalizações e estabelecer bases para aprendizagens mais complexas e para se posicionar como pessoas diante da realidade.

Sabe-se que o processo de aprendizagem é um fenômeno pessoal, em vista do que, mesmo numa turma com certo número de alunos, os mesmos devem ser considerados individualmente. Não se pode tratá-los do mesmo jeito, sob pena de falhar explicitamente no trabalho educacional a que a escola e os professores se propõem. Porém, é também um processo social, até mesmo para atender a importantíssima dimensão social do ser humano.

Limitações a serem superadas

Apesar desse entendimento, verifica-se que na escola e em suas salas de aula, de modo geral, professores ainda adotam como ponto de partida para a orientação do planejamento de seu trabalho pedagógico, o foco no conteúdo e na realização de atividades. Em vista desse enfoque, o sucesso da gestão pedagógica é medido muito mais pela realização de projetos e de atividades, em vez de pela aprendizagem e formação dos alunos, como ponto de partida e de chegada, como um processo de formação e desenvolvimento. Portanto, na organização do trabalho escolar, por incrível que possa parecer, raramente adota-se como efetiva e genuína orientação básica, a aprendizagem e formação do aluno, como um processo de desenvolvimento humano, levando-o em consideração como pessoa.

No entanto, algumas expressões do discurso de planos de educação e ensino expressam essa orientação, sem contudo implementá-las com efetividade, por deixar de considerar as necessidades pessoais e educacionais dos alunos.

As necessidades educacionais dos alunos

Por que pensar em necessidades educacionais dos alunos? Não fica implícito no trabalho da escola que ela se dedica ao atendimento das necessidades educacionais? Por que tratar desse assunto, se já se tem um entendimento implícito das necessidades dos alunos? Por que mais esta responsabilidade sobre a escola? Ela é uma novidade? É mais uma novidade e um acréscimo ao trabalho da escola?

Questões como estas, algumas delas até mesmo sugerindo uma reação adversa a uma proposta de se examinar as necessidades educacionais dos alunos, tendem a ocorrer em contextos educacionais onde se explica um baixo nível de IDEB, onde os índices de reprovação e desistência dos alunos são elevados, e, por conseqüência, onde não se tem a formação dos alunos e sua aprendizagem como o foco principal do trabalho escolar. Acrescente-se ainda que também se encontra nessas escolas uma baixa motivação para ensinar e aprender e expectativas baixas em relação à aprendizagem em crescentes graus de complexidade.

Nesses ambientes se observa muitas vezes uma orientação burocrática ao trabalho escolar, em que aulas são dadas, o programa é cumprido, e o aluno é que deve se ajustar às aulas e ao trabalho do professor e não o contrário. Apesar disso, afirma-se nessas escolas que elas existem para o aluno.

Nos estabelecimentos de ensino onde de fato se tem consciência de que existem para o aluno e para a promoção de sua formação e aprendizagem, e onde se atua de acordo com essa consciência, e se reconhece que os alunos são seres humanos movidos por necessidades humanas e educacionais cujo atendimento é fundamental para seu desenvolvimento, tem-se um ambiente efetivamente educacional e nelas todos os alunos alcançam o melhor nível possível de realização educacional.

Portanto, evidencia-se como fundamental aos profissionais da educação dedicar atenção sobre essa questão e dedicar tempo compreensão e ao atendimento das mesmas.

Em geral, costumamos promover o processo educacional a partir de políticas educacionais, programas, projetos e planos, e determinamos a efetividade de nosso trabalho pela verificação da medida em que realizamos o que é determinado nessas esferas. Tais proposições, porém, comumente deixam de explicitar de forma clara a consideração real e explícita com o desenvolvimento do aluno como o foco central do trabalho educacional. Ao mesmo tempo, até mesmo a formação profissional de profissionais da educação e de professores deixa de explicitar tal dimensão do seu trabalho, em vista do que se passa a atuar ao contrário dos princípios educacionais que se deve assumir. Neste contexto, deixa-se então, de levar em consideração os alunos como seres concretos e reais, diferenciados entre si em seu modo de ser, a partir de suas experiências particulares de vida, com necessidades e anseios, com dificuldades e potencialidades diversos para os quais o trabalho educacional deve ser voltado.

Refletir sobre o que o professor leva em consideração na realização de seu trabalho consiste em passo inicial para o planejamento educacional da escola e das suas diferentes turmas de alunos. Muitas vezes os professores se empenham bastante e se esforçam muito em seu trabalho, porém não alcançam esforços compatíveis com esse empenho, desperdiçando, quando os pressupostos de suas ações não forem claros e explicitamente direcionados para a consideração do aluno como pessoa. Quando sua atenção não for orientada para esse foco, por mais que trabalhe, não será efetivo e sua prática corre o risco de assumir um caráter distante, burocrático e, inefetivo.

É importante, portanto, que se dê atenção ao que tem orientado a atuação dos professores:
– Que aspectos e pressupostos a respeito do aluno e do seu trabalho em relação a ele, o professor tem em mente quando planeja e organiza o trabalho educacional e as suas aulas?
– O que leva em consideração sobre o aluno, para organizar seu trabalho com ele e para ele?
– O que entende por necessidades educacionais?
– Quais as necessidades educacionais mais evidentes dos alunos?
– Como o professor se prepara pessoalmente e que competências se esforça por desenvolver, a fim de poder atender a essas necessidades?
– Como organiza o seu trabalho, de modo a incorporar as necessidades educacionais de seus alunos nas atividades nas suas aulas?
– O que os professores conversam sobre as necessidades educacionais dos alunos no dia-a-dia da escola e nas horas atividade?
– O que resulta dessas conversas? Que mudanças são produzidas no seu trabalho a partir delas?
– De modo geral, como são as práticas de atendimento às necessidades educacionais dos alunos de sua escola?
– De modo geral, como o professor, em seu trabalho, contempla o atendimento às necessidades educacionais dos alunos?
Estas são questões importantes para provocar a observação e reflexão sobre a questão no contexto escolar. Esse esforço deve estimular um processo de revisão de práticas, visando a sua gradual melhoria em seus propósitos educacionais. Dada a complexidade da questão, nos dois próximos números desta revista serão analisadas questões como:
– O que são necessidades educacionais?
– Quais são as necessidades educacionais básicas dos alunos?
– Como a escola e os professores identificam as necessidades educacionais dos seus alunos?
– Que desafios essas necessidades apresentam para o trabalho educacional?
– Que planos são adotados para atender a essas necessidades na escola e na sala de aula?

Necessidades educacionais correspondem à diferença entre as condições observadas e as condições mais avançadas de desenvolvimento humano decorrentes de aprendizagem e formação. Essa diferença corresponde ao âmbito e desafio da ação educacional promotora da formação e aprendizagem dos alunos.

Todo ser humano possui necessidades educacionais, que se assentam sobre suas necessidades humanas e se mesclam com elas, cujo atendimento é fundamental para seu desenvolvimento pessoal e de suas competências. Essas necessidades se constituem em: i) necessidade fisiológica e de segurança, ii) necessidade de pertencer, iii) necessidade de ser estimado e valorizado, iv) necessidade de ser bem sucedido, v) necessidade de bem-estar e ordem, vi) necessidade de tomar decisões, vii) necessidade de resolver problemas, viii) necessidades de autorrealização.

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