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A Disciplina Escolar Pelo Ambiente Focado na Aprendizagem

É comum que professores, indagados sobre quais os maiores desafios que enfrentam em sala de aula, responderem de imediato que é a indisciplina dos alunos, que lhes impede de darem boa aulas e que prejudica o seu bom desempenho. Segundo eles, a indisciplina em sala de aula é um fantasma que os assombra e está ficando cada vez pior, pois ”está ficando cada vez mais difícil manter a atenção dos alunos”. Diretores escolares também apontam essa dificuldade e lhes rouba muito tempo de seu trabalho, pois são continuamente chamados por professores para o controle de disciplina de sua turma, ou então, tem que atender os alunos mandados para fora da sala.

Tais situações são comuns e existem desde longa data. Por décadas se repetem as mesmas situações, as mesmas reclamações, que são mantidas pela mesma ótica de gestão e docência: o combate à indisciplina dos alunos e a expectativa de que a eles cabe, por iniciativa e orientação própria adotar comportamentos centrados nas atividades de aprendizagem apresentadas pelo professor, que no entanto, consistem, em geral em contínuos monólogos ou atividades sem a devida atenção à motivação dos alunos, a estimulação de seu envolvimento, à instigação de sua curiosidade, o despertar de interesse e a orientação à sua participação.

Segundo esse quadro, as condições continuam as mesmas ou até mesmo se agravam, uma vez que diante da mudança da psicologia social e individual, professores passam a se sentir inseguros e ameaçados, uma vez que suas ameaças sobre os alunos e suas estratégias para coibir comportamentos indesejáveis não surtem efeito. Tais condições, aliás, se situam em posição diametralmente oposta ao papel da educação e às propostas e objetivos educacionais que em última instância é o de construir a autoridade interna e autonomia das pessoas, pelas quais as mesmas se tornam autosuficientes e responsáveis, condições que o autoritarismo destrói. Educação e autoritarismo são incompatíveis. O que se deve cultivar é o sentido de autoridade, isto é, o sentido de responsabilidade demonstrada pelo professor em seu empenho por construir condições positivas em sala de aula e a lógica da disciplina em vez, da do combate à indisciplina.

Cabe trazer à baila uma questão estrutural sobre essa situação. No seu cerne está posto que por mais medidas que sejam adotadas para impedir a indisciplina o que funciona é construir a disciplina. A psicologia já identificou que maus hábitos não são erradicados – eles são substituídos por bons hábitos. Conforme afirmado por Voltaire, a educação que transforma o ser humano, por ajudá-lo a conhecer-se e compreender-se, liberta-o de seus medos e o faz ascender a novos e mais poderosos estágios de consciência.

Trata-se, portanto, de uma questão de perspectiva e ponto de vista, que necessita de métodos em que os alunos possam sentir-se gente enquanto aprendem. Portanto, a ótica reativa que vem sendo adotada de longa data é não só improdutiva, como prejudicial.

Para superá-la, em vez de se dedicar atenção e energia ao controle do comportamento dos alunos, dedica-se atenção e energia ao desenvolvimento de bons hábitos, ao desenvolvimento de boas práticas, à curiosidade por conhecer o mundo e conhecer-se.

Nas escolas temos falado muito mais sobre indisciplina, que pensamos conhecer bem, do que sobre disciplina, sobre a qual pouco sabemos e sobre a qual temos percepções equivocadas. É comum que seja, por exemplo, entendida como comportamento social formal, ou como obediência e aceitação externa de autoridade. Vale a pena, pois analisar o seu conceito.

O significado de disciplina

Disciplina é uma condição necessária para o desenvolvimento da pessoa como ser humano e social. Segundo Voltaire, não há liberdade sem autodisciplina. Dessa condição depende toda a estruturação do que uma pessoa pode vir a ser. De sua capacidade de autocontrole, autoconhecimento, aprendizagem e formação. Ela consiste em auto-organização e método necessário para a construção da pessoalidade; representa um processo de construção da capacidade de dar resposta apropriada à necessidade de construção pessoal em íntima interação com o contexto social humano. Portanto, está associada ao desenvolvimento da autopercepção em relação à percepção do ambiente e construção e representação de significados, e de valoração a partir dos significados atribuídos às coisas.

Por conseguinte, disciplina se aprende a partir de experiências comportamentais reflexivas e formadoras de bons hábitos, além de ser um importante elemento de aprendizagem, que se promove mediante a observação, a reflexão sobre comportamentos e seu significado e sobre a repercussão destes em relação aos resultados obtidos, como condição de formação do autoconhecimento e autocontrole.

A disciplina é um elemento importante na sala de aula, embora não deva ser considerado como um fim em si mesmo, uma vez que não é simples condição para a aprendizagem, mas como o próprio objeto de aprendizagem do caráter social das pessoas. Não é uma situação que se estabelece mediante a aplicação de normas e medidas reguladoras, e sim uma atitude que se desenvolve mediante o discernimento, perspicácia e observação reflexiva do professor, envolvendo os alunos nesse processo.

Disciplina não é condição para que o ensino ocorra. Ela faz parte de seu processo, é inerente ao ensino e se associa ao desenvolvimento de consciência ética e moral, orientada por valores que, à medida que são desenvolvidos, pressupõe o desenvolvimento da auto-disciplina que, por sua vez, corresponde à autonomia, a capacidade de enfrentar desafios, adotar posições e assumir responsabilidades. Portanto, a disciplina precisa ser encarada como ação. Não se constrói com palavras, mas com atitudes. Não se impõe, ela se instala automaticamente pela atitude e pela vivência contínua dessa atitude.

Disciplina é um valor de convivência humana respaldada em outros valores mais elementares. Ela se constrói e se expressa coletivamente. É dinâmica, sem ser inconstante, é tolerante sem ser negligente e condescendente. Seu mérito fundamental deve ser o de libertar e não o de escravizar. Tem o poder de equilibrar, a partir do conhecimento básico de pequenas e preciosas regras de relacionamento interpessoal e de autocontrole que exigem bom senso, discernimento e a consciência de possibilidades e limites de comportamento. Sem essa consciência, corre o risco de ser inadequada, inconveniente e desagradável.

Equilibrando valores e emoções, a disciplina condiciona o bem estar individual, mostrando que a organização da atividade pessoal se situa em um contexto coletivo do qual todos dependem para seu desenvolvimento.

A construção de ambiente de disciplina

Disciplina é, pois condição que se constrói a partir de procedimentos educacionais formadores da consciência pelo aluno sobre o comportamento social e suas próprias emoções, necessários ao autocontrole, a partir de erros e acertos que servem para a observação, reflexão e aprendizagem. Ela demanda a contínua observação e atenção pelos professores e gestores, a quem compete orientar, em vez de simplesmente coibir e punir.
Adotando-se uma perspectiva proativa, gestores e professores passam a prestar atenção aos fatores que condicionam a disciplina e a orientar a sua expressão. Passam portanto, a exercer uma influência sobre os alunos que é aceita por eles, em vez de rejeitada, como a de controle, cobrança e admoestação. Nesse processo é recomendável que prestem atenção ao significado de comportamentos e ações, de modo a aproveitar todos os eventos como oportunidade conjunto de construção do conhecimento social e interativo, como por exemplo, em vez de reagir aos comportamentos dos alunos, observar:
• contextualizar os comportamentos procurando entender os aspectos que aos quais estão associados (metodologia da aula, atenção ao aluno pelo professor, tipo de atividade mental envolvida, forma de estimulação adotada pelo professor, nível de dificuldade da atividade, etc);
• as reações dos colegas, se estimuladoras ou indiferentes;
• os significados que atribuem aos comportamentos dos alunos, os fatos que justificariam esse significado e a aprendizagem que essa compreensão gera.

A partir dessa compreensão, entenderão os educadores e gestores que:
• Disciplina é uma constante organização para realizar os objetivos de formação dos alunos.
• Disciplina é o professor que faz, pela atividade que promove e atitude que demonstra.
• Disciplina é organização pessoal que conduz à realização de objetivos educacionais e a formação humana.
• Disciplina é um processo não um produto.
• Disciplina ocorre através do processo mútuo de interação aluno – professor e da interação de alunos entre si, orientada pelo professor.
• O comportamento dos alunos ocorre por ensaio e erro, fazendo parte dessa aprendizagem, errar. O erro se constitui em circunstância de reflexão e aprendizagem e não como causa de punição e objeto de controle.
• O controle do comportamento e a imposição de comportamento cerceiam a atividade e o uso de energia pela criança ou adolescente. Só são positivos caso sejam-lhe oferecidas alternativas motivadoras para aplicação dessa energia.

Compreendendo a importância dessas práticas e orientações uma professora indicou: “problema de disciplina a rigor não existe, ele é criado pelo enfoque de se considerar negativos os comportamentos diferentes e de se rotular o seu emissor em conseqüência.”

Sabe-se ser comum em escolas que diante da presença de gestores e de autoridades, os alunos expressam comportamentos considerados ordeiros. Mas basta que virem as costas, para que a balbúrdia se estabeleça. Essa condição é tomada para indicar que os alunos são indisciplinados e que demandam controle constante. Porém há duas questões a serem observadas nessa situação: i) é não apenas impossível, como até mesmo, inadequado estabelecer o controle o tempo todo; ii) esse controle gera a vontade e impulso pelos jovens de burlá-lo, observando-se que o aluno que melhor consegue fazê-lo passa a ser o herói da sua turma, o que funciona como elemento reforçador do comportamento de transgressão.

Pelo desenvolvimento da consciência moral e ética as crianças vão superando o domínio do seu ego e desenvolvendo a consciência social necessária para que cumpra normas e leis não porque são impostas, mas porque as compreenda e as adota como condição para o bem estar e o bom aproveitamento das experiências coletivas de todos. A dinâmica da sala de aula e o espaço se constituem em importantíssimo ambiente para essa fundamental experiência das crianças e jovens, no sentido do desenvolvimento da verdadeira cidadania. Para tanto, é necessário que os alunos, assim como as famílias sejam incorporados num grande movimento e sistema formativo em que a observação, a reflexão e a decisão sobre uma dinâmica escolar sejam processos abertos à autocrítica, assim como orientados pelo espírito da colaboração, torça e reciprocidade.

Essa condição aponta para o papel de liderança dos educadores, que envolve clareza sobre o seu papel educacional, como inspiradores e estimuladores de bons comportamentos. Essa condição faz lembrar a metáfora do jardineiro a seguir apresentada.

A partir dela podemos verificar que em vez de reclamarmos das intempéries, devemos aprender como aprender com ela para melhorar desempenharmos o nosso ofício.

Metáfora do jardim e do jardineiro

O jardineiro só se conhece e se explica pelo jardim que planta e cultiva, pelo gosto em manter suas plantas saudáveis e bonitas e pelo zelo em controlar as condições que interferem e prejudicam o seu crescimento. Há jardineiros, porém, que não se sentem responsáveis pelo que acontece em seu jardim, deixando de tomar providências que podem contornar dificuldades. Justificam-se afirmando que não controlam os fenômenos atmosféricos que influenciam e interferem no crescimento das plantas, e até se desanimam pelas “ervas daninhas que o vento traz” e nada podem fazer contra o ataque dos insetos e passarinhos. O verdadeiro jardineiro, porém, observa o crescer das plantas, as condições mais favoráveis para esse crescimento e adota medidas para garantir melhores resultados.

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