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Discilplina na Sala de Aula: Uma Questão de Gestão e Liderança

Uma das questões que os professores mais apontam como dificuldade para promoverem aulas efetivas é o que eles denominam de “indisciplina dos alunos”: “é muito difícil dar aula para alunos indisciplinados”, diz um professor; outro comenta, em tom de reclamação, que “os alunos não param quietos, estão sempre se agitando e cutucando seus colegas, e não é possível realizar uma boa aula com toda essa agitação”.

Também os alunos se ressentem em relação à questão da disciplina, indicando que os professores não tem controle sobre o que acontece na sala de aula, e reclamam que não podem prestar atenção no foco da aprendizagem, por causa do comportamento agitado e até agressivo dos colegas com a qual se sentem ameaçados, indicando que “há muita baixaria”, que os colegas não se respeitam nem respeitam os professores. Por outro lado, no entanto, afirmam que não gostam de ser forçados a se comportar de uma certa forma a partir de atitude controladora e autoritária dos professores. Quando esta atitude é expressa, os alunos se sentem compelidos ou a uma atitude passiva e prejudicial à aprendizagem, ou a uma atitude de rebeldia e confronto, que exacerba a questão e cria um ambiente totalmente adverso não somente à aprendizagem, mas à formação dos alunos.

Uma professora afirma: “não podemos esperar que os alunos concentrem sua atenção nas atividades de aprendizagem, se elas não forem estimulantes. Sempre presto atenção, quando preparo minhas aulas, em como criar uma situação que instigue a curiosidade dos alunos e mobilize sua atenção. A partir daí as coisas começam a acontecer e os alunos se sentem bem canalizem sua energia em algo produtivo”.

Eis pois uma importante e básica situação da gestão da sala de aula. É importante ter em mente que a aprendizagem é uma atividade de natureza não apenas pedagógica, mas psicossocial, que demanda competências especiais do professor na gestão da comunicação e do relacionamento interpessoal, tendo por foco a aprendizagem e formação dos alunos.

Os alunos gostam sim de ordem e organização, e gostam também de sentir que o professor tem domínio sobre o que acontece na sala de aula, que são capazes de liderar a turma, mediante a constituição de um ambiente participativo, produtivo e focado na aprendizagem, resultados que não são conseguidos tão somente mediante atitude controladora. Também não se deve esperar que crianças e adolescentes sejam naturalmente capazes de se “comportar como manda o figurino”, uma vez que estão na escola para aprender também comportamentos sociais e de interação com adultos e colegas, sendo natural ao desenvolvimento de sua identidade pessoal, comportamentos por vezes fora dos limites e dos códigos considerados adequados para o processo educacional.

Como seria então a atitude dos professores diante desse desafio? Não se trata de uma questão simples, com fácil resposta. Trata-se de uma questão complexa com vários desdobramentos que fazem parte do repertório da gestão do processo ensino-aprendizagem, passando pelas competências psicossociais do professor. Tais competências se assentam sobre a definição do seu papel não é o de reprimir a indisciplina, pois como energia não é reprimível: – é o de canalizar a energia para questões produtivas e facilitadoras da aprendizagem e, dessa forma construir um ambiente de disciplina, formador de comportamentos concentrados na aprendizagem. Portanto, seu papel não é o de controlar a disciplina, e sim, o de orientar para a sua expressão e desenvolvimento.

Cabe destacar que a disciplina se constitui em uma forma de comportamento que revela o autocontrole e a aplicação de energia focada na produção de resultados desejados. Disciplina, portanto, não se refere simplesmente a comportamentos externos, mas, sobretudo, e antes de mais nada, a comportamentos internos, que envolvem o autocontrole de emoções e de impulsos, à concentração mental e à predisposição psicomotora e sua alocação nas atividades de aprendizagem. Esses comportamentos não são eventuais, e sim, dependem da formação de hábitos que demandam a participação consciente e volitiva dos alunos.

Em consequência, a gestão da sala de aula envolve a constituição de uma cultura em que professor e alunos – mediante a orientação docente e seu exemplo – se dedicam ao exercício de concentrar suas energias e atenção às condições pessoais necessárias à realização de experiências positivas de aprendizagem e seus resultados. Essa condição demanda compreensões, habilidades, atitudes e esforços por parte do professor, a quem cabe reconhecer aspectos de seu desempenho e do processo ensino-aprendizagem, necessários para a realização da gestão docente: i) na prática do professor estão as bases da mudança que pretendem alcançar; ii) alunos respeitam professores seguros, confiantes e competentes em seu trabalho; iii) não se controla os alunos, e sim a situação em que eles estão envolvidos.

Na prática do professor estão as bases da mudança que pretendem

A constituição de um ambiente de sala de aula de natureza educacional, saudável, de respeito e comunicação e relacionamento interpessoal positivos começa com as atitudes do professor, cujo papel é o de dar a tônica das características de comportamento e desempenho, pelo seu próprio exemplo, na sala de aula. Nessa atuação é essencial atuar com os alunos expressando o significado e a importância do respeito, da ética e do controle das próprias emoções, por meio de ações, e não pelo discurso, já que é fundamental que o professor modele o desempenho orientado para a aprendizagem pela focalização positiva de energia, desde os pequenos atos.

Conforme um professor afirmou: “para trabalhar com um grupo de alunos com disciplina, é necessário que se desenvolvam atividades envolventes e estimulantes, nas quais todos sintam a necessidade de atuar cooperativamente para haver compreensão e aprendizagem. Há também que se envolver afetivamente com o grupo e desenvolver a responsabilidade e a necessidade de ter disciplina, sossego e calma para se alcançar um determinado objetivo”.

A disciplina se desenvolve em sala de aula desde as primeiras séries e nas primeiras aulas do ano letivo, a partir da valorização do aprendizado que os alunos estão construindo, tendo clareza do porque e para que eles estão aprendendo certos conteúdos e processos representativos da realidade, realizando determinadas atividades, vinculando-os a condições concretas da vivência e da realidade fora do mundo escolar. É importante ter em mente que tudo que tem um significado específico oferece motivação para ser aprendido e interesse por parte do aluno, de modo que mais naturalmente se dedica a aprender, canalizando sua atenção ao seu foco, dessa forma, deixando de ser estimulado para os desvios de atenção e comportamento desconcentrado. Bons hábitos educacionais necessitam ser desenvolvidos desde os primeiros anos de escolaridade e as primeiras aulas do ano letivo, para que sejam incorporados no modo de ser e de fazer educacional adotado na sala de aula e na escola.

Disciplina corresponde à consciência do respeito por si mesmo e pelo outro. Portanto, trata-se de exercício humano apreendido no contexto social, em caráter de reciprocidade. Portanto, o modo de ser e de fazer do professor na sala de aula e no ambiente escolar é fundamental para a orientação do aluno na formação da responsabilidade.

Atitudes e habilidades do professor

Quando o professor é organizado, utiliza bem o seu tempo, é responsável no que faz, domina os conteúdos da sua área e ainda possui cultura geral constantemente atualizada, utiliza a tecnologia como meio e não como fim, consegue se perceber como profissional e como pessoa, e pode perceber o outro da mesma forma. Esta pessoa vive tudo isto onde quer que esteja e com segurança e otimismo contagia os demais. É a partir desta dinâmica que encontramos terreno fértil para a construção coletiva de normas de convivência em todos os ambientes escolares.

Quando falta ao professor o domínio da maneira adequada de ensinar e também motivação suficiente para poder fazer com que o aluno participe efetivamente do processo ensino-aprendizagem, não só deixa de exercer influência positiva, como deveria, sobre o desempenho do aluno, como também, transfere para ele a responsabilidade total pela problemática da disciplina.

A disciplina está diretamente ligada às atividades do professor e do aluno mediante uma consciência de respeito e limites ao convívio social equilibrado por esse respeito, assim como a concentração da atenção e da energia ao foco da aprendizagem, mediante processos ativos e envolventes. Regras de comportamento que sejam utilizadas de forma autoritária e policialesca pelo professor sobre as atitudes dos alunos não funcionam, pois nos alunos despertam muito comumente a vontade de desafiá-las, por a reconhecerem como uma vontade e determinação do professor, para seu benefício. Quando os alunos são envolvidos na construção de códigos de conduta para a construção de um ambiente de cidadania, marcado pelo espírito da construção coletiva e aprendizagem, passam a se sentir responsáveis por ele. Dessa forma, podem crescer juntos em conhecimento, ou seja, aprendendo significativamente.

Alunos respeitam professores seguros, autoconfiantes e competentes em seu trabalho

Um princípio fundamental do desenvolvimento humano e do processo educacional é o de que não se pode influenciar com efetividade o comportamento dos outros por comportamentos diferentes daqueles pretendidos. Por exemplo, não se consegue que uma pessoa aprenda e passe a falar baixo, a partir da influência de alguém que grita para que o faça; não se obtém a mudança de comportamento desorganizado, senão pelo exemplo da organização. Igualmente, portanto, o desenvolvimento da concentração da energia e da expressão de comportamentos considerados como expressão da disciplina na sala de aula se constrói mediante a criação de ambiente em que estes comportamentos são praticados pelo professor: respeito pelo próximo, capacidade de interagir com calma e tranquilidade, equilíbrio emocional, pontualidade, concentração nas atividades da turma, foco em sua aprendizagem, etc.

Cabe também ao professor cuidar de sua expressão corporal e verbal, de modo a passar confiança, assertividade, espontaneidade e bem-estar voltados para o trabalho de aprendizagem. Hesitações, indecisões, expressões agressivas ou irônicas podem representar espaço de testagem e disputa pelos alunos do controle sobre o que acontece na sala de aula, de que resulta perda de controle pelo professor e contribuem para que os alunos assumam o controle e liderem o clima da sala de aula.

A disciplina está indiscutivelmente associada à competência do professor. Denota organização, responsabilidade e persistência orientados por princípios educacionais consistentes, habilidades de comunicação, relacionamento interpessoal, gestão de dinâmica de grupo, dentre outros aspectos, como domínio de conteúdo e metodologias ativos de ensino, além de atitudes pessoais de respeito, solidariedade, sensibilidade. Todo trabalho consciente necessita de disciplina para atingir os objetivos a que se propõe. O bom professor “conquista” a disciplina através da sua competência e capacidade de trabalhar com os alunos, construindo um ambiente marcado pela responsabilidade de cidadania.

Não se controla os alunos e sim a situação em que eles estão envolvidos

É comum o entendimento de que disciplina garante-se pelo controle dos alunos. Um diretor comentou negativamente sobre o desempenho de alguns professores de sua escola, que, segundo ele não tinham controle sobre suas turmas e, ao fazer tais comentários, indicava como modelo um outro professor com o qual “não precisava se incomodar, porque em suas aulas ninguém piscava” conforme afirmara. Este professor mantinha sua turma disciplinada. “A única coisa que competia com sua voz eram as moscas”, explicava o diretor. Uma situação inusitada, não acha? – como os alunos conseguem ficar sem conversar e sem interagir com seus colegas? A respeito deste professor, no entanto, os alunos afirmavam que contavam os minutos para a aula acabar, detestavam as aulas e estudavam só para não serem reprovados; também informaram que extravasavam a energia reprimida nas aulas dos professores seguintes, que tinham uma dificuldade extra com a disciplina da turma.

A questão aponta para o fato de que o importante não é controlar o aluno e seu comportamento, tornando estético e mecânico, e sim, orientá-lo, mediante o seu envolvimento positivo em atividades em que concentre suas energias, de forma interativa, a fim de que aprenda a utilizar positivamente as suas energias. Portanto, o controle exercido pelo professor deve ser sobre a organização das atividades dos alunos e as situação que podem gerar desvios indesejáveis de comportamento, prevenindo-os, o que é alcançado mediante um bom planejamento de aula, que abrange a seleção de experiências interessantes e estimulantes, a identificação de perguntas reflexivas, a variação da situação de estímulo, exercícios de aplicação e de revisão e reforço, o relacionamento interpessoal que mantém com os alunos, a adequação de sua comunicação, dentre outros aspectos.

Vale dizer que a disciplina não é imposta e sim, construída e aprendida. Os alunos atuais não têm muito medo de repreensões; as sanções disciplinares não os amedrontam tanto. Os professores que conquistam disciplina ao invés de impô-la, têm uma resposta muito rápida e duradoura no relacionamento com seus alunos e nos resultados do processo ensino-aprendizagem.

Mais aspectos são envolvidos nesse processo e podem ser explorados pelo professor, na construção de sua competência para a construção de um ambiente em que professores e alunos trabalhem com espírito de compromisso com o desenvolvimento de aprendizagens significativas.

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