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Escola, Comunidade e Família no Brasil: Um Novo Desafio para a Gestão e Liderança

Com 179 milhões de habitantes que se espalham por 5.561 municípios, o Brasil, um país continental, mantém um sistema público de educação básica — ensino fundamental, oito anos; e ensino médio, três anos — que atende, em 2006, 47.6 milhões de estudantes, matriculados em 193 mil escolas de ensino fundamental e 1.650 escolas de ensino médio. É esse universo escolar que deve ser levado em conta quando se reflete ou se propõe ações para promover a integração escola-comunidade no país, como processo fundamental para fortalecer as lideranças escolares e a gestão democrática e participativa nas unidades de ensino público.
Sem esquecer que quando se fala em comunidade escolar, além dos segmentos de alunos, professores e funcionários envolvidos (comunidade externa) está se falando de todo um segmento de pessoas posicionadas no entorno das escolas, que se dedicam às mais variadas atividades, e, com especial ênfase, está-se referindo às famílias desses alunos. Uma rápida “navegada” pelo site de busca Google, na Internet, permite identificar, quando se pesquisa a expressão “school community integration” (integração escolar com a comunidade), cerca de 31 mil páginas, com cerca de dez referências cada; quando se indica a expressão “school family integration” (integração família-escola) surgem mais de um milhão de páginas com aproximadamente 76 mil referências; já ao se tentar o termo “school partnership” (parceria escolar), o internauta se depara com 2,6 milhões de páginas. É claro que muitas destas entradas aparecem em todos os objetos pesquisados,sobrepondo-se os conteúdos; entretanto, serve para o pesquisador ou interessado na área avaliar, de imediato, o imenso universo de informações disponíveis sobre o tema em questão.
Pergunta-se: afinal de contas, por que tanto interesse pelo assunto?
Porque o processo de integração família-escola é necessário
Nas últimas décadas a organização social de países desenvolvidos e em desenvolvimento passa por profundas modificações causadas por uma intrincada mescla de fatores: intenso deslocamento das populações rurais e das pequenas cidades do interior para capitais de regiões metropolitanas, o que acelera o processo de urbanização e periferização dos grandes centros; influência de fatores econômicos e sociais provenientes do processo geral de globalização, o que leva a maiores e complexas demandas de mercado e qualidade de vida; rápida agregação das novas tecnologias da informação e da comunicação no cotidiano das pessoas, o que requer da sociedade civil e do poder público mais organização e democratização de acesso para determinados segmentos da população; além de vários outros fatores.
Em países com as características estruturais como as do Brasil, essas causalidades interagem com variáveis sócioeconômicas e culturais/educacionais, que provocam problemas como a violência social endêmica, o clientelismo e a corrupção política, as cooptações entre poder e mídia e os baixos níveis de qualidade de vida, por exemplo. Esse rol de problemas se reflete nas mudanças que acontecem nas relações familiares. À quase permanente ausência dos pais e mães
trabalhadores em casa e à desestruturação familiar causada por inúmeras causas (separações e abandonos, alcoolismo e drogas, miséria, violência doméstica) somam-se em muitos casos, à falta de pais ou responsáveis (irmãos, parentes ou amigos) sem conhecimento ou capacidade para educar as crianças e adolescentes.
De forma simultânea, no âmbito escolar discute-se hoje uma série de mudanças no papel da Educação, que deve assumir, diante do novo quadro social, responsabilidades com relação ao que se pode chamar de educação integral, ou seja, um processo ensino-aprendizagem abrangente que envolva as áreas cognitiva, afetiva e psicomotora dos educandos. A mudança do papel da Educação resulta, é claro, também na necessidade de evolução do papel dos professores e gestores escolares, o que, por sua vez, depende de complexas mudanças de entendimento e conscientização desses profissionais; da implantação de políticas públicas efetivas na área que valorizem o trabalho da classe; e da oferta de capacitação e qualificação permanentes.
Mas, como em um círculo em que causas e conseqüências se interpenetram, a integração família-escola se torna emergencial, batendo à porta dos estabelecimentos de ensino, para atender as necessidades de democratização da sociedade em geral e das próprias escolas; pela necessidade de entender diferentes perspectivas sociais e modos de vida; pela urgência na prevenção do envolvimento da juventude com drogas e violência; por ser também emergencial integrar o currículo escolar às demandas da vida social e profissional de cada indivíduo. É fácil entender, a partir de alguns conceitos-chave que guiam as novas perspectivas sociais, como essa integração é fundamental. No momento atual, o conceito de cidadania se torna onipresente e releva uma sociedade responsável por si mesma, madura e não dependente de um governo paternalista e amplamente provedor; sabe-se, ou aprende-se às vezes de forma dolorosa, que os problemas sociais podem atingir qualquer um — ninguém mais está a salvo das conseqüências das distorções e mazelas da sociedade, portanto há que ter responsabilidade social; e está comprovado que somente os processos participativos produzem um significado concreto e duradouro no desenvolvimento social e individual.
A efetivação dessas conceitos-chave no mundo atual — cidadania, responsabilidade social e participação — podem ser estimuladas e fortalecidos pela Educação, em particular pelos processos pedagógicoeducacionais realizados pela escola.
Como se dá a parceria escola-família
No Brasil, a própria Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) determinam a participação dos pais para a efetivação do processo da gestão democrática nas escolas. Entretanto, mais do que o cumprimento de uma determinação legal, a busca pelo fortalecimento dessa parceria colaborativa se apresenta, no atual contexto social, como uma dos poucos caminhos viáveis para que escolas e famílias consigam superar as dificuldades que vêm enfrentando na educação de seus filhos/alunos.
Pode-se assim traduzir a busca pela promoção de uma parceria permanente entre família e escola como um esforço com interesses mútuos envolvidos — um caminho de colaboração de mão dupla. E vamos além: é lógico afirmar que o equilíbrio do processo educacional depende atualmente do papel complementar desempenhado pelas famílias e pelas escolas, uma em relação à outra. As pesquisas indicam que 43,7% dos pais dos alunos matriculados em escolas públicas gostariam de se engajar em algum tipo de colaboração mais próxima com as escolas de seus filhos se tivessem oportunidade para isto; mas apenas 13% das escolas mantêm parceiras próximas fortes com as famílias.
Na perspectiva da escola, há atualmente um reconhecimento de que a educação de uma criança ou adolescente é tarefa árdua e complexa que requer um esforço conjunto com a família; e já não se concebe, como há alguns anos, a transferência de responsabilidade ou culpa pelo fracasso nesta tarefa da escola para a família, ou da família para a escola.
Estratégias de integração família-escola
Os estudos teóricos sobre a questão, mas em especial as experiências práticas bem-sucedidas demonstram que as melhores estratégias para constituir CEDHAP Av. Cândido Hartmann, 528 Cj. 62 – Mercês – Curitiba – Pr – CEP – 80.730-440 – Fone/Fax – 41-3336-4242
E-mail – Cedhap@cedhap.com.br
formas de organização que envolvem parcerias efetivas entre família e escola são aquelas desenvolvidas por meio de associações de pais e mestres, conselhos escolares, círculo de mães ou pais, trabalho voluntário de pais e mães, escolas abertas, promoção de seminários, cursos e palestras para os pais e realização de festividades que envolvam famílias e comunidade, como celebrações do Dia dos Pais e Dias das Mães, festas juninas e outras.
É interessante lembrar que todas as escolas públicas, por força da legislação, devem ter uma associação de pais e mestres ou um conselho escolar como órgãos que funcionem como “braço financeiro” das escolas, para recebimento de diferentes recursos, como os da merenda escolar, por exemplo. Mas, muitas vezes, os gestores escolares não percebem o potencial que esses órgãos têm como focos aglutinadores de iniciativas integradoras entre comunidade interna e externa da escola e de parcerias específicas com as famílias.
A experiência dos Amigos da Escola
Uma das mais expressivas experiências brasileiras na promoção da integração família-comunidade iniciou-se no ano 2000, a partir da concepção da Rede Globo de Televisão, a maior rede de emissoras da América Latina. Chamada de “Amigos da Escola”, a iniciativa consiste basicamente no exercício da responsabilidade social como forma de contribuir no fortalecimento das escolas de educação pública de ensino fundamental, pela valorização do trabalho voluntário e ações solidárias. Até 2006, o projeto tinha 27 mil escolas envolvidas, com 243 mil “amigos da escola” engajados em suas ações, o que representa uma média de nove voluntários por escola de ensino fundamental do país. Esse exército voluntário desenvolve ações de gerenciamento escolar, projetos de educação para proteção ambiental, artes e esportes, por meio de promoção de dias temáticos (seleciona-se uma data para trabalhar, por meio de atividades diversificadas, em tema específico) e o engajamento de estudantes em atividades lideradas por voluntários, que podem ser pais e mães, ou empresários, comerciantes e diversos profissionais da comunidade em questão.
Os resultados do Amigos da Escola têm sido animadores. Uma pesquisa localizada no âmbito de determinada comunidade escolar permite firmar que 75% dos estudantes envolvidos elevaram seu nível de motivação; 40% deles iniciaram participação em atividades extra-classes; o melhoramento em termos de disciplina elevou-se em 13%; e houve decréscimo de 11% nos índices de evasão escolar e de 10% nos índices de reprovação. Esses resultados se repetem, com pequenas variações percentuais, nas avaliações feitas em diversas comunidades escolares em vários pontos do país.
A parceria escolas e ONGs
Outra forma de parceria que já apresenta bons resultados, no sentido de estabelecer a colaboração recíproca entre escola e comunidade para atingir, como grande objetivo, o desenvolvimento dos alunos é aquela feita com Organizações Não-Governamentais (ONGs). De fato, muitas ações conjuntas vem sendo realizadas de comum interesse entre as comunidades escolares e as ONGs voltadas para promover ações educacionais. Essas ações geralmente focam seus esforços na falta de recursos das escolas e melhoram a imagem de algumas empresas patrocinadoras ou que suportam as ONGs sendo, assim, produtivas para os dois parceiros.
O grande exemplo na área é o Faça Parte, projeto do Instituto Brasil Voluntário, uma ONG mantida por várias empresas que objetiva estimular o desenvolvimento de uma cultura de voluntariado, participação e colaboração social. O Faça Parte já aglutinou 45 mil escolas em projetos para estudantes envolvidos na solução de problemas sociais, ou seja, a idéia central é levar os alunos dessas escolas ao seu desenvolvimento como voluntários e cidadãos.
Escolas abertas para a comunidade
A partir da idéia simples de manter as portas das escolas abertas para atividades, esportivas ou culturais, da comunidade nos finais de semana, esse projeto da Unesco, patrocinado pelos sistemas públicos de educação, vem integrando as famílias e outras pessoas do entorno escolar à vida comunitária. Já é comum poder ver em muitas escolas, de vários estados brasileiros, os pátios, quadras, salas de aula e outras dependências, nos sábados e domingos, cheios de gente, de todas as idades, participante de atividades esportivas, de oficinas de arte (dança, música, pintura, teatro), fazendo cursos práticos ou aprendendo diversas habilidades. O projeto iniciou-se no Rio de Janeiro e em Pernambuco ao mesmo tempo, em 2000 — já foi levado ao Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Piauí. Também foi implantado em algumas escolas da Argentina. As experiências são diferentes por todo o país, mas todos os projetos do Escola Aberta envolvem parcerias locais e comunitárias fortes. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, 97 municípios participam do Escola Aberta, em 2006. Dos participantes dos projetos, 76% deram uma “nota” 9 ou 10 para a proposta; 63% dos estudantes classificaram entenderam que seus relacionamentos melhoraram na escola; e 70% dos participantes expressaram sua satisfação em fazer parte do programa.
Na Região Metropolitana de Recife, Pernambuco, 14 prefeituras eram apoiadoras do projeto, em 2003, formando uma grande rede estimulada pelo governo do Estado, governos municipais, associações de bairros, universidades, ONGs, comunidades e jovens voluntários. O público médio, por final de semana, girava em torno de 90 mil pessoas, que passavam pelas 432 escolas do projeto. O processo de interiorização se iniciava em 2004, com uma escola em Fernando de Noronha e em mais quatro municípios do interior. Das várias atividades de cultural, lazer, esportes, oficinas profissionalizantes, oficinas de línguas — espanhol, alemão, italiano, francês — 75% eram realizadas pelo trabalho voluntário: cerca de três mil pessoas da própria comunidade dedicavam de uma a duas horas por final de semana a estas atividades.
Esses são exemplos de algumas grandes ações, embora existam centenas de outras em desenvolvimento nas escolas públicas do país, por iniciativa da equipe gestora local, da associação de pais e mestres ou de educadores engajados em inovar em busca da integração escola, família e comunidade. Todas essas ações em curso, grandes ou pequenas, bem ou pouco divulgadas, demonstram que os resultados são altamente positivos. A partir desse ponto, em que elas ainda aparecem como novas experiências, é necessário lutar por sua manutenção, reforço, transformação e consolidação em atitudes permanentes e significativas, que façam diferença no dia-a-dia de todos os parceiros envolvidos na educação escolar.

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