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Necessidades Básicas dos Alunos a Serem Atendidas na Sala de Aula Pelo Professor

O aluno se apresenta na sala de aula como um ser humano dotado de possibilidades de aprendizagem que podem ser ativadas mediante as intervenções interpessoais de natureza pedagógica, que venham ao encontro de suas necessidades humanas/ educacionais. Considerar essas necessidades corresponde a considerar o aluno como pessoa e relacionar-se com ele a partir dessa consideração, apresentando-lhes estimulações e atenção correspondentes. Fazê-lo é condição básica para a mobilização de sua motivação focada na aprendizagem e demanda a compreensão pelo professor de seu significado e reconhecimento de atendê-los no cotidiano da sala de aula.

Essas necessidades se apresentam de maneira hierárquica, conforme estudo de Abraham Maslow (1962), de modo que, na medida em que venham sendo satisfeitas e atendidas, dão origem a outras necessidades mais complexas e abrangentes, caracterizando o desenvolvimento humano, vindo a culminar,no topo da hierarquia, com a autorealização pessoal como pessoa, necessidade que alcança sua plenitude na idade adulta (embora grande parte das pessoas não alcancem esse estágio de desenvolvimento e se sintam pessoas frustradas e infelizes).

Sob pena de cercear o desenvolvimento gradual do aluno como ser humano que aprende, cabe aos gestores escolares e ao professor na sala de aula estarem atentos ao atendimento às necessidades educacionais e humanas dos alunos, mediante cuidados adequados.

Necessidade de segurança

A primeira necessidade dessa hierarquia se constitui na necessidade fisiológica e de segurança, tanto física, como psicológica. Trata-se de uma necessidade básica que, uma vez atendida, possibilita a emergência à necessidade de pertencer, de natureza social. Neste artigo estas duas necessidades serão analisadas, ficando as restantes para o próximo número desta revista.

Na base da hierarquia das necessidades humanas toda pessoa depende para sua sobrevivência e desenvolvimento da mais básica necessidade fisiológica e de segurança tanto física como psicológica. Toda pessoa necessita, por exemplo, de ar puro, alimentação adequada, abrigo seguro e livre de riscos, para poder interessar-se por outras dimensões da escala de necessidades humanas, de caráter mais subjetivo. Segundo a escala hierárquica proposta por Maslow, essa necessidade é garantida por alimentação saudável e nutritiva, pelo apoio físico e material que protege o ser humano de adversidades e ameaças à sua integridade física e psicológica.

A escola atende a essa necessidade, por exemplo, mediante o programa da merenda escolar, que absorve grande parte dos esforços de gestores escolares, além do tempo dedicado diretamente à qualidade do ensino; a orientação ao recreio escolar; o cuidado com o mobiliário e ambiente escolar livre de risco de os alunos se machucarem, assim como limpo, organizado, bem arejado, com temperatura agradável e saudável. O cuidado com a organização do espaço, a ventilação, a higiene, o controle de ruídos fazem parte dessa atenção.

Porém, a necessidade de segurança é também atendida pelas características do ambiente psicossocial, livre de agressões por palavras e atitudes, que enfraquecem ou até mesmo destroem tanto quanto as agressões físicas. O abandono, o descuido, a desconsideração, o preconceito, a omissão, as discriminações e favoritismos, as arbitrariedades, o tratamento impessoal e burocrático, o autoritarismo, a privação de atenção, podem funcionar como agressões aos alunos, produzindo sentimentos de insegurança que destroem sua autoimagem.

Verifica-se que muitas vezes essa falta de segurança é a condição natural em que muitas crianças vivem, cabendo à escola estar atenta para compensar os efeitos adversos do lar sobre a capacidade e predisposição dos alunos para aprender. Acrescente-se ainda o cuidado que se deve ter na escola, por não replicar essas condições em seu ambiente, o que, no entanto, também se observa em muitos ambientes escolares e na la de aula, onde muitos alunos se sentem humilhados, perseguidos e desconsiderados, tanto por colegas, como por professores.

O “bullying”, que corresponde a comportamentos de molestação e provocação que ocorre entre colegas na escola tem sido identificado pelos alunos como falta de garantia de segurança no interior da escola. Em pesquisa entre alunos que abandonam os estudos, essa condição foi apontada como a segunda causa mais importante para deixarem a escola, por se sentirem inseguros e ameaçados. Um aluno se manifestou a respeito, indicando que “eu gostaria de prestar atenção na aula, mas não consigo, é uma zoada só, os alunos não se respeitam e ficam pegando no meu pé, e os professores não fazem nada, porque não conseguem ser respeitados. Já falei com a diretora da escola e também não adiantou nada. Acho que vou desistir de vir prá escola.”

Cabe destacar que o sentimento de medo gerado pela insegurança, mesmo que de uma ameaça de natureza psicossocial, pode por em risco não apenas o desenvolvimento normal de pessoas, mas até a qualidade de sua vida, criando condições de doenças psicossomáticas (de fundo emocional) de natureza até mesmo graves. Além, é claro de servirem como inibidoras da aprendizagem e do desenvolvimento social.

O que observar para garantir as necessidades de segurança na escola e na sala de aula? É importante que se tenha um olhar atento para todas e as mínimas ações que possam prejudicar esse atendimento, algumas das quais passam despercebidas e são expressas inadvertidamente. Ao mesmo tempo, é necessário ter a atenção voltada para garantir as condições psicológicas, sociais e físicas necessárias ao desenvolvimento do sentido de segurança.

Faz parte desse processo a observação dos professores e gestores ao seu comportamento, sua comunicação e relacionamento com os alunos. Dessa forma, é importante orientar-se por questões como:
– Como se sentem os alunos individualmente e em grupo em relação ao ambiente físico da escola e da sala de aula?
– Como são as relações interpessoais dos alunos entre si e dos professores, funcionários e gestores com os alunos?
– Que expressões de comunicação e de relacionamento interpessoal os professores adotam com os alunos que porventura possam ser percebidos por eles como ameaça, desconsideração ou agressão?
– Que expressões de comunicação e de relacionamento interpessoal os professores adotam com os alunos que servem como reforço positivo?
– Que providências os professores e gestores adotam para evitar o bullying entre os alunos?
– Que medidas são adotadas em cada sala de aula e na escola tendo como foco a preocupação com a segurança dos alunos?
– As carteiras escolares e móveis são bem preservados e livres de riscos de alguém se machucar?
– São feitas orientações a respeito da importância de manutenção, conservação e cuidado com o ambiente escolar?
– O espaço é adequado para o número de alunos e a sua organização é confortável?
– Os professores prestam atenção continuamente ao comportamento de todos os alunos e a relação de uns com os outros, de maneira a prevenir atritos ou desatenção?
– São feitas orientações a respeito da merenda escolar e o seu consumo de forma segura e adequada?
– O recreio e suas brincadeiras são supervisionados e orientados por adultos?
– Como é feita a orientação do recreio escolar?
– Os ambientes escolar e da sala de aula são desprovidos de objetos inseguros e são bem arejados?
– Os gestores e professores prestam atenção aos seus comportamentos, atitudes e comunicação verbal e não verbal, de maneira a controlar aqueles que possam afetar a segurança psicossocial dos alunos?
– Adota-se na escola a orientação para o respeito humano recíproco?
– Os alunos são orientados na observação e reflexão sobre o seu comportamento em relação a questões de segurança física e psicológica?

Necessidade de pertencer

Uma vez garantida a necessidade de segurança, mediante ambiente seguro, organizado e caracterizado por comportamentos equilibrados e respeitosos de adultos e crianças, manifesta-se uma necessidade de natureza social, que corresponde à necessidade de pertencer, de sentir-se parte de um grupo. Ela constituiu uma necessidade típica do ser humano, como ser social, sem a qual não desenvolve adequadamente sua identidade pessoal, que emerge no convívio e interação dinâmica com seus semelhantes em grupos sociais.

A fim sentir-se pertencendo a um grupo social, o ser humano desenvolve os comportamentos nele adotados, de modo a sentir-se parte dele e a ser acolhido pelo mesmo, já que o grupo força a expressão de determinados comportamentos e coíbe outros, a fim de garantir o acolhimento.

A necessidade de pertencer é, pois, decorrente da natureza social do ser humano e fundamental para o seu desenvolvimento, uma vez que não pode se desenvolver como tal sozinho, à margem de grupos sociais e sem integrar-se neles. Sua aprendizagem se processa interagindo com os semelhantes e com eles compartilhando experiências, impressões e conhecimentos (Preito C., sd).

Essa necessidade explica, por exemplo, porque as crianças, mas, sobretudo, os adolescentes, querem ter certos calçados, vestimentas e objetos “porque todo mundo tem”. Desejam identificar-se com o grupo, para poder pertencer a ele. Penteados, “piercings” e tatuagens passam, por exemplo, a ser sinais de pertencimento a um grupo diferenciado de pessoas. Quando comportamentos exóticos e objetos que a pessoa ostenta são a porta de entrada e de acolhimento para pertencer a grupos, é porque os participantes desses grupos não aprenderam a cultivar valores voltados para a realização humana, atendo-se a valores menores, que não agregam significados humanos autênticos, criando a cultura do ter e aparentar, em vez da cultura de ser, focada no seu desenvolvimento como pessoa.

Portanto, essa necessidade, como todas as demais, demanda orientação para a aprendizagem a respeito dos significados atribuídos a objetos, comportamentos e ações que são tomados para representá-los.

Para o atendimento a essa necessidade, é importante que a escola ofereça aos alunos atividades de grupo, em clubes de interesse, como esportes, teatro, canto, jogos intelectuais, nos quais os alunos poderão desenvolver a sua identidade pessoal, habilidades de relacionamento interpessoal e comunicação, capacidade de atuação construtiva em equipe, valores de cooperação e responsabilidade, dentre outros aspectos. É importante ter em mente que os alunos devem ser orientados não apenas em relação às habilidades específicas necessárias ao objeto das atividades, mas também no desenvolvimento de habilidades e atitudes sociais e da interação humana em grupos. Verifica-se, no entanto, que comumente, estas competências são desconsideradas como objeto de aprendizagem.

Ao entrar para a escola, o aluno passa a pertencer a um grupo diferenciado de pessoas, com objetivo de aprendizagem e formação humana, passando a conviver com grupos de colegas, organizados m turma, o que demanda envolver-se colegiadamente. Verifica-se, no entanto, a falta de atenção pelos professores e pelos gestores escolares, sobre essa questão. No espaço de sala de aula, em geral, os alunos são enfileirados, de maneira a poder se relacionar apenas com alguns poucos colegas próximos, o que, no entanto, é cerceado pelo professor, criando-se um ambiente de massificação, que elimina a riqueza da interação como processo de aprendizagem e de atendimento à necessidade de pertencer.

Compete pois, aos gestores escolares e professores adotarem medidas para que seja organizado o espaço e o ambiente das salas de aula para que sejam marcados por experiências de troca e interação entre todos os colegas, que se conhecem e se respeitam e desenvolvem um código de ética comum entre si, em relação aos objetivos de aprendizagem. O desenvolvimento de valores elevados para nortear a dinâmica de grupos e a interação entre seus membros não ocorre naturalmente, apesar de a necessidade de pertencer ser natural a todos – eles precisam ser orientados, sendo interessante criar símbolos, sinais, músicas para a sua representação, de forma a se tornar evidente a unidade do grupo em torno de uma questão.

Pertencer a uma escola, com uma marca particular e diferenciada, sentir-se parte de uma entidade que tem identidade própria, cria um sentimento de orgulho e satisfação muitíssimo importante, que contribui para a construção da identidade pessoal do aluno, assim como estabelece condicionamentos favoráveis à aprendizagem. O mesmo acontece em pertencer a uma determinada turma que cultiva características comuns elevadas, que tem sinais comuns de identificação desses valores (slogans, bandeira, logomarca, símbolo, etc.) e reforço ao cultivo e expressão dos mesmos em seu comportamento. Verifica-se que essa necessidade é atendida na sociedade pela filiação a clubes de fãs, torcidas organizadas de futebol, que tanta energia drena em desatenção ao desenvolvimento humano.

Observa-se muitas vezes haver em sala de aula um aluno isolado em sua turma e que “fica no seu canto sem incomodar”. É muito provável que o mesmo não esteja aprendendo tanto quanto deveria e poderia, e que até mesmo se sinta infeliz e tenha uma baixa autoestima. Cabe ao professor dar-lhe a atenção necessária e adotar medidas para fazê-lo sentir-se parte da turma como um todo.

Verifica-se que quanto mais diversificado é o conjunto de grupos e das experiências sociais vivenciadas nos grupos, mais consistente é a formação da pessoa que deles participa, emergindo então a necessidade de autoestima, de valor próprio, independente do reconhecimento de outras pessoas. Portanto, organizar atividades em grupo e orientar a sua atuação, de forma a garantir a aprendizagem social dos alunos, consiste em elemento fundamental do processo educacional. O atendimento a essa necessidade é observado em vários países cuja educação é reconhecida internacionalmente como de qualidade, onde a formação de grupos de estudo e a aprendizagem de forma colegiada são uma prática regular e metodologia inerente ao processo educacional. Nesses sistemas, as salas de aula, e as carteiras dos alunos são organizadas em formato que facilite essa atividade e aproveita-se a dinâmica social dos alunos para a promoção da aprendizagem cooperativa, o que resulta na aprendizagem de habilidades de comunicação e interação interpessoal, na diminuição de situações consideradas como indisciplina, na maior motivação pelo processo educacional e em melhores resultados acadêmicos.

A consideração por gestores e professores a questões para orientar o atendimento à necessidade educacional de pertencer passa pela observação e reflexão de questões como:
– Que projetos e atividades são realizados na escola como um todo e nas salas de aula, para promover a socialização e interação entre os alunos?
– Quais os objetivos, resultados e regularidade desses projetos e atividades?
– Como é orientado o desempenho dos alunos nesses projetos e atividades, em relação à formação de competências sociais e desenvolvimento do sentido de unidade social?
– Como é promovida na escola e na sala de aula a integração dos alunos em seus grupos, de forma a evitar a criação de isolamento de alunos?
– Que dificuldades são observadas a respeito do atendimento às necessidades de pertencer dos alunos e como são orientadas para a sua superação?
– Que projetos a escola promove para oportunizar e orientar o desenvolvimento de habilidades de atuação em grupo, de espírito de equipe e sentimento de fazer parte integrante da escola e de sua turma?
– Como e com que frequência os professores promovem em cada uma de suas aulas atividades interativas entre os alunos?
– O que é feito em cada turma de alunos para desenvolver o sentido de unidade e identidade própria como um grupo especial, orientado por valores elevados?

O atendimento e orientação dos alunos em relação às necessidades examinadas neste artigo contribui para o seu desenvolvimento e sua maturação, promovendo a manifestação de outras necessidades mais complexas, a serem examinadas na continuidade desta série de artigos.

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