Menu

Últimas do
Blog e Artigos

Parcerias e Trabalho Voluntário em Educação

O presente artigo sistematiza observações realizadas em conjunto com 27 diretores de escolas públicas das 27 unidades federadas do Brasil reconhecidos como líderes em gestão escolar, apontados pelo Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar promovido pelo CONSED, em parceria com a UNESCO, UNDIME e Fundação Roberto Marinho, e que receberam como prêmio, uma viagem de estudos sobre parcerias em educação, aos Estados Unidos, durante quinze dias. Durante essa viagem, realizada com o patrocínio da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil e organizada pelo Departamento de Educação daquele país, foi possível observar diretamente a abrangência e a profundidade da experiência de parcerias e trabalho voluntário em educação, naquele país.
A natureza e o desenvolvimento de parcerias e trabalho voluntário
As parcerias e prática do voluntariado em educação constituem-se em essência do exercício da cidadania e desenvolvimento da educação. Trata-se de uma prática antiga nos Estados Unidos, mas que, a partir da ação do Departamento de Educação daquele país, ganhou grande expressão e ímpeto, assim como teve suas ações e resultados organizados e sistematizados pela atuação da Associação Nacional de Parceiros em Educação e suas afiliadas estaduais e locais.
A importância do trabalho coletivo e da parceria como condição para o desenvolvimento da educação e expressão de cidadania se evidencia na observação da dinamização das escolas e melhoria da qualidade de seu ensino. Este trabalho, no entanto, necessita, para sua efetivação de que organizações da sociedade civil assumam a liderança no desenvolvimento destes trabalhos com a comunidade e a integração dos pais às escolas de seus filhos. Para tanto, projetos especiais orientadores da mobilização geral em torno da educação devem ser promovidos e desenvolvidos.
Evidencia-se que as parcerias de empresas e organizações não governamentais, assim como o trabalho voluntário de pais e membros da comunidade com a escola, representam um resgate à cidadania e que estas ações contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento da qualidade do ensino e enriquecimento do currículo escolar, além de atender algumas necessidades educacionais especiais, como por exemplo, a de alunos com dificuldade de aprendizagem. Com as parcerias e trabalho voluntário, o que se busca é a mobilização em torno da educação, pelo oferecimento de tempo e talento, que se constituem em valor muito maior do que o dinheiro que algumas vezes é também oferecido, para o desenvolvimento de programas especiais. Como educação é responsabilidade da sociedade em geral e de toda a comunidade, as parcerias se constituem em importante estratégia para a realização compartilhada dessa responsabilidade, estabelecendo laços de interação produtiva entre todos.
Formas de parceria e de trabalho voluntário
Várias formas de parceria e de trabalho voluntário são identificadas, em relação a diferentes segmentos da sociedade:
1. Com empresas e organizações não governamentais, mediante:
o doação do tempo de trabalho de seus funcionários, como mentores ou tutores de alunos, capacitadores de profissionais ou assessores em projetos especiais;
o doação de equipamentos de que a empresa possa dispor;
o doação de dinheiro para projetos especiais;
o liberação de horas de trabalho do funcionário, para que possa assistir a reuniões na escola;
2. Com membros da comunidade, mediante:
– atuação como orientadores de aprendizagem dos alunos, em leitura, matemática e ciências;
– auxílio em tarefas diversas da escola;
– mentoria de alunos, para auxiliá-los em suas dificuldades emocionais e fortalecimento de sua auto-imagem;
– tutoria de alunos, para auxiliá-los em suas dificuldades específicas de aprendizagem;
3. Com as famílias, mediante:
– maior atenção e acompanhamento à escolaridade dos alunos;
– maior participação nas atividades da escola;
– apoio à realização de atividades diversas.
4. Com clubes de serviço, mediante:
– A mobilização de seus membros para apoiarem as ações educacionais;
5. Com igrejas, mediante:
– o atendimento a alunos com dificuldades especiais, sem contudo passar-lhes mensagem da sua doutrina religiosa;
– a mobilização de seus fiéis, para apoiarem a escola e nela trabalharem como voluntários.
Ações para garantir a eficácia do trabalho
Com relação ao trabalho de parcerias e trabalho voluntário, os diretores brasileiros identificaram que estão no caminho certo, que já fazem parcerias com empresas e organizações diversas e envolvem os pais e a comunidade. Identificaram, no entanto, que são necessários esforços especiais no sentido de dar a esse trabalho um caráter mais sistemático e organizado, assim como maior visibilidade ao que fazem, descrevendo suas experiências, como também as avaliando. Para realizar esse trabalho, de modo a garantir sua maior eficácia e garantia de continuidade, identificaram como importante alicerçar e orientar as ações de parceria mediante:
1. Abertura da escola e de seus profissionais para o estabelecimento de relações de parceria e trabalho voluntário.
a. Como estrada de dupla via e relação de reciprocidade, a parceria demanda um forte espírito de abertura da escola.
b. A abertura se estabelece mediante um processo em que ambos os lados sintam que ganham alguma coisa pela associação.
2. Compreensão mais aprofundada e clara desse processo, suas funções e dinâmica, bem como dos parceiros.
a. Parcerias produtivas são desenvolvidas a partir de conhecimentos sobre as melhores práticas desse processo.
b. É necessário conhecer bem, para manter um bom relacionamento com os parceiros.
3. Estruturação e organização na escola, das condições de recrutamento, orientação, apoio e acompanhamento das parcerias e trabalho voluntário.
a. Essa estruturação e organização não só garantem a eficiência e eficácia do processo, como também a necessária integração e unidade entre as diferentes ações.
b. Faz parte desse trabalho, o estabelecimento de uma coordenação, na escola, assumida por um de seus profissionais.
c. A estruturação e organização deve assentar-se sobre premissas
básicas para o processo, envolvendo valores, crenças e idéias,
claramente entendidos e conhecidos.
4. Identificação na comunidade de recursos potenciais para a parceria e voluntariado.
a. Talentos diferenciados, vocações sociais, acervos culturais presentes na comunidade são elementos que devem ser identificados e mobilizados.
b. A identificação pode ser feita a partir de pesquisa, de solicitações pela imprensa local e organizações diversas.
5. Avaliação de necessidades da escola, na perspectiva de seu atendimento por parcerias e trabalho voluntário.
a. Parcerias boas são aquelas que atendem a necessidades específicas da escola, e para isso são cuidadosamente identificadas e analisadas, de modo a estabelecer como podem contribuir para este atendimento.
b. Essa identificação pode ser feita previamente à busca de parceiros e voluntários, de modo a direcionar a busca, ou junto com os parceiros e voluntários, de modo a direcionar o seu trabalho.
6. Recrutamento e seleção de parceiros.
a. É necessário saber selecionar bons parceiros e dedicar tempo em seu
recrutamento.
b. O recrutamento e seleção são processos contínuos.
7. Capacitação e treinamento das pessoas envolvidas nas parcerias.
a. A ação de parceria exige conhecimentos e habilidades especiais, tanto por parte dos profissionais da escola, como dos voluntários parceiros.
b. É necessário identificar e definir as habilidades e conhecimentos que essa atuação exige, bem como a sua filosofia, concepção, princípios e estratégias, para incorporar estas questões no treinamento.
8. Planejamento compartilhado do trabalho de parceria, com objetivos e metas claros e definição de responsabilidades e compromissos.
a. Traçar planos é condição para obter maiores e melhores resultados.
b. Os objetivos, metas e ações a serem desenvolvidos devem ser
decididos junto com os parceiros e voluntários.
c. É fundamental que os espaços de atuação sejam definidos e as
expectativas recíprocas sejam esclarecidas.
9. Comunicação e veiculação de informações contínuas sobre o processo, tanto internamente como externamente.
a. A comunicação e a informação garantem a necessária transparência, a integração e o reforço das ações.
b. É importante realizar essa divulgação, tanto dentro da escola, como na comunidade externa.
10. Reconhecimento contínuo do trabalho realizado e evidenciação de seus resultados.
a. Quanto mais os parceiros se sentirem importantes, melhor seu trabalho.
b. O reconhecimento público reforça o trabalho dos que já estão e atrai novos parceiros e voluntários.
11. Monitoramento contínuo dos processos para garantir sua efetividade e desenvolver competências bem informadas a respeito.
a. Acompanhar sistematicamente o processo, em relação ao planejado,
é condição para garantir sua eficiência.
b. O monitoramento permite estabelecer as necessárias correções ao processo, durante a sua efetivação.
12. Avaliação diagnóstico e de resultados
a. Sempre se devem avaliar o antes e o depois, a fim de se poder identificar os benefícios da parceria e do trabalho voluntário.
b. A avaliação deve também ser um trabalho contínuo, de modo a identificar resultados parciais, cuja divulgação ajuda a reforçar o processo e motivar os envolvidos.
13. Marketing social
a. O marketing social das parcerias e do trabalho voluntário reforça, orienta e divulga esse trabalho, motivando a participação dos já envolvidos, e estimulando novas participações.
b. Pela divulgação contínua das atividades e resultados das parcerias, a educação se torna uma notícia de interesse geral para as comunidades.
c. O marketing social ajuda a estabelecer a credibilidade das ações realizadas pela transparência das ações.
Foi identificado que o processo de parceria envolve tempo, talento e dedicação, sendo que sua preparação demanda cerca de oito (08) meses, período em que é construído um relacionamento e clima de confiança recíprocos, é feito um plano de ação, é estabelecido compromisso conjunto, bem como são tomadas as providências preliminares para o sucesso da parceria.
Parceria entre empresa e escola
A parceria entre empresa e escola deve ser estabelecida a partir de princípios de reciprocidade, em que ambas as partes ganhem no processo: a escola, mediante serviços e recursos recebidos e a empresa, mediante a oportunidade de divulgar a sua imagem como empresa social.
Há várias formas de participação da Empresa com a escola, dentre as quais se destacaram:
a) O entendimento pelas empresas e empregadores, da importância do acompanhamento da escolaridade dos filhos pelos empregados e da participação destes na vida escolar.
Tal entendimento pode ser concretizado mediante a dispensa de trabalho dos empregados, durante um dia no semestre, para que estes possam comparecer à escola. Pesquisas têm identificado que onde esta iniciativa ocorre, tem sido reduzido o nível de stress dos trabalhadores e ocorre um aumento de sua produtividade.
b) Criação de programas na empresa, para o fortalecimento das famílias.
Estes programas podem envolver a realização de palestras sobre temas diversos, como por exemplo, relacionamento interpessoal, psicologia infantil, saúde, educação dos filhos, temas culturais, etc.
c) Capacitação de profissionais da escola e assessoria em questões técnicas.
A empresa detém um grande acervo cultural representado pelo “know how” dos seus funcionários. Grandes e médias empresas têm uma grande variedade de profissionais: na área da administração, da engenharia, da saúde, da economia, da informática, da contabilidade, etc. Todos eles podem prestar grandes serviços à escola, ajudando-a a resolver problemas dessas áreas e capacitando em serviço, seus profissionais.
Algumas recomendações:
– As parcerias devem começar pequenas e seu crescimento deve ser gradual, a fim de que tenham um crescimento sustentado.
– O estabelecimento de programas e ações de parceria depende das necessidades e metas de cada escola. Não se podem transferir programas de uma escola para outra, de uma situação para outra.
Comentários de diretores participantes de missão de estudos em escolas americanas
“Compreendi, nesta missão, que parceria vai muito além do que temos feito, pois é uma ação de via dupla e talvez por não sabermos esse verdadeiro sentido, não tenhamos ido mais longe”. Valdenice Oliveira – MS
“O mais importante em uma parceria não é o dinheiro e sim, o envolvimento das pessoas”. Raimundo Vasquez – AP
“Quando os educadores, os pais e os alunos trabalham juntos, a educação fica melhor”. Antônio Bringhenti – SC
O envolvimento das famílias, na educação dos filhos
O envolvimento efetivo das famílias na educação dos filhos e sua participação nas atividades escolares chamam a atenção de modo especial, uma vez que quando educadores, funcionários da escola e as famílias dos alunos trabalham juntos, aumenta o êxito destes. Esse resultado é identificado em estatísticas demonstrativas de que quando há envolvimento dos pais, há maior aprendizagem dos alunos e melhor desempenho escolar em geral.
Os pais podem colaborar com a escola de maneiras diversas, como por exemplo:
– acompanhando e assessorando o trabalho escolar dos alunos, em casa;
– trocando idéias com os professores, a respeito do desenvolvimento de seus filhos, de modo a que sejam conhecidas as realidades familiar e escolar, por ambas as partes;
– trazendo suas competências profissionais específicas para a resolução de problemas escolares;
– lendo de maneira estimulante para os alunos, de modo a desenvolver neles o gosto da leitura e ajudar a superar dificuldades que alguns apresentam;
– ajudando a atender a entrada dos alunos na escola;
– supervisionando o recreio escolar;
– apoiando a realização de atividades extra-classe;
– ajudando na preparação da merenda escolar – a variação de tempero torna o alimento mais atraente para os alunos;
– auxiliando na organização e desenvolvimento de programas de parceria;
– participando em trabalho de reforço de aprendizagem, no turno contrário.
A relação entre família escola não deve ser de mão única, a partir da premissa de que “famílias fortes promovem escolas fortes”. É necessário que estas também recebam o apoio da escola para fortalecer-se. As escolas podem realizar palestras sobre temas de interesse das famílias, e promover o funcionamento de clubes de pais, para congregá-los.
Algumas recomendações
– A participação da família na educação deve ser um esforço local.
– A escola deve envolver tanto pais como mães, cuidando para não repetir o que pesquisas têm revelado: que os pais (homens) sentem-se pouco à vontade na escola, porque esta instituição direciona sua abordagem às mães.
“Trabalhar com a família permite que se obtenham melhores resultados em ambos os lados: ganha a escola e ganha a família, pela aprendizagem dos alunos”. Iracema Gomes de Oliveira – AL
O trabalho voluntário
O voluntariado é um trabalho exercido por pessoas que se associam à escola, com o objetivo de beneficiar os alunos da comunidade escolar, colocando-se à disposição para realizar trabalho não remunerado. Este trabalho é regulamentado mediante um contrato que estabelece os seus objetivos e as formas de ação colaborativa de ambas as partes, definindo possibilidades de ações e limites, assim como princípios éticos.
Os voluntários são membros da comunidade que dispõem de tempo livre e de talentos que possam ser utilizados na escola para o enriquecimento de seu currículo e das experiências educacionais dos alunos, para a melhoria do ambiente escolar em geral e para o atendimento a alunos com necessidades especiais.
O trabalho com os voluntários exige uma coordenação por parte da escola, que assume várias responsabilidades, como por exemplo, recrutamento, treinamento, integração de ações, acompanhamento, motivação, avaliação, divulgação de resultados, atividades de integração dos voluntários à escola, acolhimento, etc.
“Mais importante que quantidade é o comprometimento e a permanência dos voluntários no alcance das metas propostas. A continuidade de um programa de voluntariado depende das estratégias de reconhecimento e da contínua avaliação e monitoramento das metas e objetivos do programa como um todo”. Célia Maria Vilela Tavares – TO, Jaqueline Thomé Passos – PR, Neli Helena Bender de Quadros – RS, Sebastião Augusto Loureiro Filho – AM, Sebastião Machado de Souza – GO, Vera Lúcia M. Silva – TO.
Perspectivas para a nossa realidade
O entendimento de que a escola, para ser eficaz deve construir sua autonomia, passa pela participação na comunidade no seu processo de decisão, em sua gestão como um todo, e pelo seu compromisso com a efetivação de um currículo escolar rico de experiências para seus alunos. Em vista disso, o desenvolvimento de parcerias com empresas, o trabalho voluntário e a participação dos pais tornam-se uma condição sine qua non para a democratização da escola e melhoria da qualidade do ensino.
A construção dessa cultura de participação demanda, de um lado, a abertura da educação e da escola, e de outro a disponibilidade de representantes da sociedade para uma participação consistente e continuada. Estamos iniciando-nos nesse processo, com resultados positivos já evidentes em inúmeras escolas e comunidades. É preciso dar ímpeto a essa forma de atuação social, de modo a torná-la forma natural de nosso modo de ser e de fazer.

Siga-nos facebook

marcador-localOnde Estamos

Av. Cândido Hartmann, 528 cj. 63 Curitiba – Paraná - 80730 – 440

telefoneFone/Fax
041 3336-4242


©2013 - Todos os direitos reservados